Apesar dos avanços, data é lembrete da necessidade de enfrentamentos antigos

Adriana Tognoli atua na defesa dos direitos da mulheres há mais de 30 anos em Marília. (Foto: Reprodução/Internet)

Neste Dia Internacional da Mulher, 8 de março, é importante celebrar as conquistas obtidas ao longo dos anos, mas a data deve ser um lembrete da necessidade de diversos enfrentamentos. Apesar dos avanços em relação aos direitos das mulheres, o maior desafio ainda é o mesmo, o de enfrentar a violência de gênero e a discriminação. 

Para a advogada e ativista há mais de 30 anos nesta área, Adriana Tognoli, alterar esse cenário é dever de todos. “Precisamos de um conjunto de ações, partindo de um compromisso de promover a pedagogia da igualdade, educando com maior cooperação desde a infância. Vejo isso se iniciando pela mudança de comportamento, com envolvimento maior dos homens na paternidade e nos cuidados domésticos. Casais cooperativos não reproduzem comportamentos agressivos, assim como homens mais sensíveis e conscientes”, diz Adriana, que é pedagoga, empresária e atua na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social.

A especialista destaca avanços na legislação, com a Lei Maria da Penha, mas ela por si só não coíbe a violência de gênero, já que esta está impregnada através dos séculos, decorrente das relações de poder e dominação patriarcal. “O sistema ainda reproduz a desigualdade até mesmo dentro das instituições que deveriam defender e proteger a mulher. A legislação é boa, mas depende de atores para se tornar mais efetiva. Sou uma entusiasta da criação e ampliação dos programas de ressocialização dos agressores domésticos, pois as estatísticas provam resultados bem promissores, que reduzem a reincidência radicalmente. Isso traz mais equilíbrio social, quebrando o ciclo da violência doméstica geracional, comum no país”.

Ela lembra que a OMS (Organização Mundial da Saúde) reconheceu a violência doméstica como um problema de saúde pública. “Ela também é um sério fator que limita a atividade da mulher no mercado de trabalho, pois, além de trazer traumas graves, causa enorme prejuízo financeiro ao país. Para que a mulher possa se desenvolver plenamente, é indispensável uma vida sem violência”.

‘Democracia é capenga em sua representatividade’, analisa advogada

Apesar de responder por mais da metade da população, a representatividade feminina em espaços de poder e na política ainda é pequena. E, para Adriana, para que os avanços continuem, é preciso que isso aumente. “Somos a maioria, mas não nos vemos devidamente refletidas no cenário político, por exemplo. Vivemos uma democracia capenga na sua representatividade. As mulheres conhecem as necessidades das mulheres, das famílias, porque sempre tiveram mais intimidade com este tema. As que estão nos espaços de poder e liderança têm muito mais condições de decidir, legislar e de promover políticas públicas que realmente transformem o universo feminino. E quando você transforma a mulher, você empodera a família”.

O resultado, segundo ela, é um país mais desenvolvido, livre das amarras do atraso provocadas pela opressão machista. “Com mais desenvolvimento, mais saúde física e mental, maior qualidade de vida e maior PIB [riqueza produzida no país], pois o enfrentamento da violência reflete nisso também. Sabemos que em países com menor desigualdade de gênero, vigora um estado de bem-estar social”.

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