A Polícia Civil de Marília, por meio do SIG (Setor de Investigações Gerais), deflagrou, no fim da tarde desta terça-feira (29), a “Operação Fake Doctor”, com o objetivo de desmantelar um suposto esquema de falsificação de atestados médicos em hospitais públicos e particulares da cidade. Dois técnicos em radiologia, de 33 e 37 anos, foram presos em flagrante por falsificação de documento público, mas foram liberados pela Justiça nesta quarta-feira (30), durante audiência de custódia, para responder ao inquérito em liberdade.
Segundo o delegado Wanderley Elenilton Gonçalves Santos, titular do SIG e responsável pelas investigações, os suspeitos aproveitavam momentos de distração ou ausência dos médicos para usar seus carimbos em atestados em branco. Eles eram contratados em quatro hospitais diferentes da cidade e não tinham antecedentes criminais.
Depois, os documentos eram preenchidos com o nome do “comprador” e o período de afastamento desejado. “Apuramos que os dois trabalhavam juntos e se comunicavam. Quando um estava em um setor do hospital e conseguia carimbar, mandava mensagem para o outro avisando”, explicou o delegado.
As investigações começaram após um médico identificar o uso indevido de seu nome em um atestado e comunicar o setor jurídico do hospital, que registrou boletim de ocorrência. “Foram aproximadamente sete dias de apuração até constatarmos a situação e deflagrarmos a operação. Até o momento, identificamos quatro médicos vítimas. Essa investigação só teve sucesso devido ao trabalho conjunto desenvolvido entre o HC-Famema e a Polícia Civil, pela colaboração e troca de informações cruciais”, acrescenta Santos.
OPERAÇÃO /Durante a operação, foram feitas diligências no HC (Hospital das Clínicas) de Marília e na residência de um dos investigados, no Jardim Bandeirantes. A polícia apreendeu dois celulares e 14 atestados em branco já carimbados, que passarão por perícia.
“Um dos suspeitos alegou que usava os documentos somente em proveito próprio. Já o segundo investigado disse que recebeu os atestados desse colega, que iria rasgá-los e não tinha intenção de usar em benefício próprio ou vender”, complementa o delegado.
Agora, a Polícia Civil de Marília busca identificar outras vítimas, apurar há quanto tempo o esquema funcionava, quanto era cobrado pelos documentos e onde eles foram apresentados. “As pessoas que compraram os atestados falsos também podem responder pelo crime de falsificação de documento público”, afirma Santos.
De acordo com o artigo 297 do Código Penal, “falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro” pode resultar em pena de dois a seis anos de reclusão, além de multa.
HOSPITAL /Em nota, o Hospital das Clínicas da Famema (Faculdade de Medicina de Marília) afirmou que, assim que recebeu a denúncia, procurou imediatamente a Polícia Civil para registrar a ocorrência.
“A Superintendência do HC-Famema, desde o início da ação policial, adotou, de imediato, todas as medidas administrativas necessárias com responsabilidade para cessar qualquer prática ilegal dentro e fora desta instituição, atuando em conjunto à Polícia Civil, inclusive, está auxiliando na operação em curso e já determinou ações imediatas para identificar e rastrear outros documentos fraudulentos que possam ter sido apresentados em órgãos públicos e privados”, informou o hospital.
O HC destacou ainda que atua com base nos princípios da moralidade, legalidade e interesse público, com políticas de fiscalização e controle, além de investimentos em governança institucional, para garantir a qualidade do atendimento e a confiança da população.